terça-feira, 19 de maio de 2009

Pegos no pulo

Tem gente que não acredita em comédias românticas. Histórias fantasiosas, regadas a humor, que têm como fundo o relacionamento de um casal. São sempre estabanados e ligeiramente desatentos, entregam-se a situações notoriamente fadadas ao insucesso, alimentam-se de clichês conjugais.

Porém, clichê por clichê, a arte imita a vida e vice-versa. Alguns casais vivem em um filme da Jennifer Aniston. Andreia e Marco, que acabavam de começar um enlace, trilhavam, sem querer, esse caminho cinematográfico.

Depois do filme que assistiram e do cuidado de Marco em preservar a própria saúde gastro-intestinal, cederam ao desejo mútuo e entregaram-se um ao outro. Enfim o sexo. Ambos viveram o momento intensamente. A falta de intimidade, a delicadeza excessiva, evitando ser julgado ou julgar.

Em casa, um pensava no outro. Quando veriam-se? Se ligassem, seria pegar no pé? Será que não é melhor manter uma distância saudável? Não aguentavam. Andreia, especificamente, tinha medo de emendar um namoro no outro. Ouvia na terapia que isso não era bom, era tampar a panela com qualquer tampa.

Mas se mulheres fossem emocionalmente equillibradas, seriam homens. Apropriou-se da deusa moderna que habitava aquele corpo e ligou para Marco, sem medo de que ele pensasse que ela estava apaixonada depois das primeiras intimidades. Ele não esperava a ligação e surpreendeu-se com tamanha segurança.

Queria vê-la no mesmo dia, mas Andreia não podia. Tinha um curso à noite sobre “A pós-modernidade capitalista na visão dos filósofos poloneses” e não havia chance de faltar. Ele, docemente, propôs de ir buscá-la. Argumentou que só o percurso até a casa da moça já o deixaria satisfeito, sem grandes programações. Sentiu-se uma colegial a esperar o namoradinho na porta da escola. Aceitou.

Enquanto aguardava o carro dele virar a esquina, pensava em como ele tinha sido delicado, doce, um fofo, em prontificar-se a buscá-la. Ele não queria só uma companhia social, estava realmente interessado nela. Será que estava projetando? Não, era fato. Que homem faria o mesmo nos dias de hoje no terceiro encontro?

Quando encontraram-se ambos tinham sorrisos largos. Beijaram-se. Ela contou sobre o curso, ele sobre o trabalho. Farol vermelho. Beijos. Perdiam a hora naqueles beijos. Até que alguém, no carro atrás, buzinava enlouquecidamente. Lembravam-se da vida. Marco engatava e saia. Entre os dois uma química de desejo fortalecia-se a cada beijo.

A cada farol o clima esquentava. Andreia morava em um prédio e não queria ser vista pelo porteiro naquela situação. Tinha que ir para casa, não poderiam esticar a noite, mas queria ficar mais tempo com Marco. Ele percebeu a intenção. Antes de chegar na casa dela sugeriu que fossem a um lugar mais calmo.

Ela sugeriu uma rua paralela à sua para ficarem mais à vontade. Não haveria prédios e porteiros curiosos, que, no dia seguinte, a olhariam com olhar de malícia. Novamente, sentia-se uma adolescente. Renovada, livre.

Estacionaram o carro. Foram beijos e carinhos. Entraram em estado de ebulição. Eram muitas mãos, peles, cabelo, pernas. Nada mais importava. A rua, o tempo, o dia seguinte. Estavam rendidos, entregues ao momento. Mas no meio do caminho havia um freio de mão. No meio da luxúria, alguém inocentemente abaixou a trava e o carro, lentamente, começou a descer.
Demoraram a perceber. Notaram a tempo de evitar uma colisão com um carro que estava estacionado logo à frente. Marco afastou Andreia, que bateu o cotovelo na buzina e a cabeça no teto, e puxou o freio. Estavam a salvo.

Leve balde de água fria. Riram da situação. Em 15 segundos, estavam novamente atracados. Não contavam que a dona da casa onde o carro tinha parado havia escutado a buzina. A senhora acendeu a luz da garagem e saiu para ver o que era. As lâmpadas mais lembravam holofotes e, na correria por desgrudaram-se, mais enroscados ficavam. Que pouca vergonha, dizia a velhinha.

Segunda interrupção. Não há clima nem espírito juvenil que resistam. Resolveram dar fim a traquinagem e sair dali. Mas como resolver a situação? Andreia foi até em casa. Sem acordar a amiga, que dormia como um anjo, pegou uma camiseta, calcinha e uma calça. Fez uma pequena mala. Voltou para o carro. Seguiram o caminho sem grandes carícias. Andreia somente repousava a mão sobre a perna de Marco. Enfrentaram uma fila de 25 minutos atrás de outros carros na porta do Delirius, o motel mais próximo da região.



quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pego pelo estômago

Andreia namorou 2 anos. Até então, havia sido o único amor de sua vida. Único não só no sentimento como também no sexo. Aliás, sexo que era algo especial para ela. Havia esperado até os 21 para ceder aos encantos de um rapazote. Andreia não mitificava o ato sexual. Não sonhava com príncipes e nem em ficar presa para sempre ao primeiro homem de sua vida. Ela simplesmente não banalizava o assunto. Para ela, não era como tomar café depois das refeições (gostoso, natural e corriqueiro). Ela encarava como um momento íntimo, gostoso, mas delicado, que devia ser deliciosamente compartilhado. Talvez uma romântica num mundo moderno.


Agora, Andreia estava sozinha. Aberta novamente às investidas do mundo. Não era uma namoradeira contumaz, mas depois de 2 anos na mesmice, queria uma boca diferente, uma pegada forte e um papo renovador.


Foi então que Andreia encontrou Marco. Ele tinha um charme no andar, na barba por fazer, no rosto milimetricamente assimétrico. Não era só bonito, era inteligente. Enfim, um coquetel de boas impressões para Andreia, que procurava bons motivos para envolver-se novamente, mesmo que rapidamente, com alguém. Ele também interessou-se por ela.


Flertaram. Na frente de amigos em comum, trocaram beijos. Frisson na rodinha de amizades. Achavam que eram feitos um para o outro. Queriam investir em novos encontros dos dois. Andréia não tinha pressa. Tinha... mas não queria ter.


Marcaram um encontro. Foram ao cinema. Ele a deixou em casa. Andreia tinha um jeito levemente seco de tratar quem gostava. Marco tinha medo de avançar o sinal e perder a chance de aproximar-se definitivamente dela. Cada um passou a noite no seu canto.


Mas hormônios são hormônios e quem prova de um saboroso bolo de chocolate, raramente, consegue negar mais de um pedaço. Andreia queria que rolasse. Eram 3 meses de abstinência, sem contar os 21 anos que ela havia ficado intocada. Eram adultos. Ela calculou que pelos últimos amassos, da próxima vez não passaria.


Marco ligou. Marcaram de jantar num mexicano. Mexicano? Complicado para quem não tem intimidade e pretende passar a noite em claro. Ela sabia disso. No dia do encontro, foi ao salão.


Depilou-se, fez as unhas e escova. Almoçou salada e tomou Luftal o dia todo para evitar surpresas na hora “h”. No restaurante, conscientizou-se, ia só petiscar e evitar algo mais pesado.


Porém, se homens fossem espertos, seriam mulheres. No dia do terceiro encontro do casal, Marco foi a um churrasco. Empanturrou-se de picanha, linguicinha, coração, maminha na manteiga, alcatra, bisteca e asinha de frango. Não deixou passar nem as saladas. Jogou-se na maionese, na salada de cebola com tomate e no tabule. Tudo regado à cerveja.


Eram 20h. Ele estava pontualmente na frente da casa de Andreia. Ela saiu com um vestido xadrez em tons de azul, meia preta e sapatinho boneca. Quando abriu a porta do carro sentiu a colônia de Marco. Ele estava de camisa preta, a barba aparada, cabelo despretensiosamente desarrumado. Ela estava louca para que o jantar terminasse logo.


Chegaram ao restaurante, pediram as bebidas e começaram a papear. Marco, em questão de instantes, empalideceu. Suava frio. Pediu licença e foi ao toillet. Demorou 20 minutos.


- Você está bem?
- Claro.


Em 5 minutos saiu novamente. Voltou. Quis pedir a comida rápido.


- Você está bem?
- Claro. Vamos comer, ok?


Não aguentou o cheiro da comida. Foi ao banheiro novamente.


- Marco, pelo amor de deus, o que você tem?!!
- Francamente?
- Por favor!
- Caganeira.


Depois de um breve e constrangedor silêncio, ele colocou a culpa na maionese. Fez questão de ficar no restaurante até que ela terminasse o jantar. Educadamente, pediu desculpas por não poder esticar a noite. Saiu de Pinheiros até Santo André para deixá-la em casa. Controlava cada cólica que sentia. Queria disfarçar o desconforto e evitar acidentes. Não a esperou entrar em casa. Abriu bem os vidros e arrancou com o carro.


No dia seguinte, envergonhado pela situação intestinal e pelo sexo adiado, ligou para Andreia. Marcaram um novo encontro, mas nada que envolvesse alimentação. Foram ao cinema. Marco fez jejum e guardou-se para a pipoca.



segunda-feira, 11 de maio de 2009

Aprendendo com Sofia

É quase uma regra rir quando uma criança troca as letras e fala algo errado. Adultos adoram essa sensação de superioridade. Parece um prazer mórbido saber que você está criando um Hortelino Troca-Letras. Passada a piada, a criança é corrigida.


Porém, quando o erro acontece diante de amigos ou da família, os adultos demoram mais tempo a tempo a corrigir. Preferem pedir que a criança repita até que todos os parentes do almoço de Páscoa escutem que o infante equivócasse em alguma pronúncia.


Mas, algumas crianças são mais espertas que outras. Algumas entendem a chacota e negam-se a fazer parte dela.

Sofia tem 4 anos. Encanta com suas maçãs rosadas, cachinhos e olhos de jabuticaba. Foi contente, durante uma dessas reuniões com muitos tios, pedir à mãe algo que queria muito.

- Mãe, quero fazer um pininique. Você me leva? - doce como sempre

- O que você quer, filha?

- Um pininique.

Risos incontroláveis. A mãe chama a avó, a tia e o pai de Sofia.

- O que você quer mesmo fazer, Sofia?

- Um pininique, manhê - repete irritada

Todos riem. Chamam o avô, a prima de Indaiatuba e tio.

- O que é que você quer, Sossô? - com aquela gargalhada pronta e engatilhada

- Mãe, me ensina a falar certo?

Acabou a piada. Cada um foi atrás de seus copos de cerveja e deixaram mãe e filha acertarem aquela diferença.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Preposições

- Mãe, quinta-feira tenho um casamento... Será que uso o vestido preto ou o azul.

- Hmmm, melhor o azul, você está sempre de preto. Casamento de quem?

- Do Mesquita.

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- E aí, decidiu o vestido? Já é a véspera do casamento.

- O azul mesmo.

- E quem vqai casar mesmo?

- Mãe, já não te disse que é o menino do financeiro da empresa?

- Não, você falou só que o casamento era na mesquita.

- Não, mãezinha, é casamento do Bruno Mesquita.