quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pego pelo estômago

Andreia namorou 2 anos. Até então, havia sido o único amor de sua vida. Único não só no sentimento como também no sexo. Aliás, sexo que era algo especial para ela. Havia esperado até os 21 para ceder aos encantos de um rapazote. Andreia não mitificava o ato sexual. Não sonhava com príncipes e nem em ficar presa para sempre ao primeiro homem de sua vida. Ela simplesmente não banalizava o assunto. Para ela, não era como tomar café depois das refeições (gostoso, natural e corriqueiro). Ela encarava como um momento íntimo, gostoso, mas delicado, que devia ser deliciosamente compartilhado. Talvez uma romântica num mundo moderno.


Agora, Andreia estava sozinha. Aberta novamente às investidas do mundo. Não era uma namoradeira contumaz, mas depois de 2 anos na mesmice, queria uma boca diferente, uma pegada forte e um papo renovador.


Foi então que Andreia encontrou Marco. Ele tinha um charme no andar, na barba por fazer, no rosto milimetricamente assimétrico. Não era só bonito, era inteligente. Enfim, um coquetel de boas impressões para Andreia, que procurava bons motivos para envolver-se novamente, mesmo que rapidamente, com alguém. Ele também interessou-se por ela.


Flertaram. Na frente de amigos em comum, trocaram beijos. Frisson na rodinha de amizades. Achavam que eram feitos um para o outro. Queriam investir em novos encontros dos dois. Andréia não tinha pressa. Tinha... mas não queria ter.


Marcaram um encontro. Foram ao cinema. Ele a deixou em casa. Andreia tinha um jeito levemente seco de tratar quem gostava. Marco tinha medo de avançar o sinal e perder a chance de aproximar-se definitivamente dela. Cada um passou a noite no seu canto.


Mas hormônios são hormônios e quem prova de um saboroso bolo de chocolate, raramente, consegue negar mais de um pedaço. Andreia queria que rolasse. Eram 3 meses de abstinência, sem contar os 21 anos que ela havia ficado intocada. Eram adultos. Ela calculou que pelos últimos amassos, da próxima vez não passaria.


Marco ligou. Marcaram de jantar num mexicano. Mexicano? Complicado para quem não tem intimidade e pretende passar a noite em claro. Ela sabia disso. No dia do encontro, foi ao salão.


Depilou-se, fez as unhas e escova. Almoçou salada e tomou Luftal o dia todo para evitar surpresas na hora “h”. No restaurante, conscientizou-se, ia só petiscar e evitar algo mais pesado.


Porém, se homens fossem espertos, seriam mulheres. No dia do terceiro encontro do casal, Marco foi a um churrasco. Empanturrou-se de picanha, linguicinha, coração, maminha na manteiga, alcatra, bisteca e asinha de frango. Não deixou passar nem as saladas. Jogou-se na maionese, na salada de cebola com tomate e no tabule. Tudo regado à cerveja.


Eram 20h. Ele estava pontualmente na frente da casa de Andreia. Ela saiu com um vestido xadrez em tons de azul, meia preta e sapatinho boneca. Quando abriu a porta do carro sentiu a colônia de Marco. Ele estava de camisa preta, a barba aparada, cabelo despretensiosamente desarrumado. Ela estava louca para que o jantar terminasse logo.


Chegaram ao restaurante, pediram as bebidas e começaram a papear. Marco, em questão de instantes, empalideceu. Suava frio. Pediu licença e foi ao toillet. Demorou 20 minutos.


- Você está bem?
- Claro.


Em 5 minutos saiu novamente. Voltou. Quis pedir a comida rápido.


- Você está bem?
- Claro. Vamos comer, ok?


Não aguentou o cheiro da comida. Foi ao banheiro novamente.


- Marco, pelo amor de deus, o que você tem?!!
- Francamente?
- Por favor!
- Caganeira.


Depois de um breve e constrangedor silêncio, ele colocou a culpa na maionese. Fez questão de ficar no restaurante até que ela terminasse o jantar. Educadamente, pediu desculpas por não poder esticar a noite. Saiu de Pinheiros até Santo André para deixá-la em casa. Controlava cada cólica que sentia. Queria disfarçar o desconforto e evitar acidentes. Não a esperou entrar em casa. Abriu bem os vidros e arrancou com o carro.


No dia seguinte, envergonhado pela situação intestinal e pelo sexo adiado, ligou para Andreia. Marcaram um novo encontro, mas nada que envolvesse alimentação. Foram ao cinema. Marco fez jejum e guardou-se para a pipoca.



4 comentários:

Morda a Maçã!